(Gilton Lobo)
O salão apodreceu. Quem estava perto da porta, saiu em desespero. Ouviu-se em alto e bom som um “puta que o pariu!”. Outro: “Quem soltou essa carniça?”. O boteco se tranaformara, naquele momento, no palácio internacional da podridão. Todos - até João Birita, que estava em estado ômega de bebedeira -, usaram a camisa como filtro nasal. Seu Almeida, assumindo o posto de dono do estabelecimento, mais vermelho do que já é, proclamou: “O responsável por esta proeza está convidado a se retirar... e nem precisa pagar a conta”.
Passado um tempo, ninguém assumindo o incidente, Zé Bentinho, que já estava por algum tempo pensando como pagaria a conta da farra que fizera, levantou-se e, feito um político extasiado, subiu numa mesa, fazendo dela o seu palanque:
"Eu que até hoje nunca fui famoso,
pois, por fazer cordel a vida nada me deu,
aproveito este momento, de cunho majestoso,
para exaltar a glória do que aqui se sucedeu.
E, se é certo que ninguém ficou alheio ao fato seboso,
é óbvio que foi sucesso a obra do autor que se escondeu.
Como quis sempre ser famoso um dia,
mas como cordelista a fama me esqueceu,
declaro como minha a rejeitada autoria,
da obra fedorenta e magnífica pelo tanto que fedeu.
Agradeço ao bar a gentileza e a cortesia
de dispensar a conta, esse prêmio agora é meu.
Aos que ficam: sejam tutores dessa minha euforia
e espalhem por aí, que quem soltou esse peido fui eu".